O ano 2020 veio acompanhado de algo novo e triste, o inesperado. Quem imaginaria que um vírus levaria tantas pessoas ao sofrimento e à morte? Estamos vivendo uma pandemia, um tempo, no mínimo, extraordinário, daqueles que necessitam um olhar diferente. Como podemos olhar o diferente com as mesmas lentes da regularidade?
É com esse olhar que me pego pensando quais são as dores e delícias de ser mulher? Ser mulher no fluxo de uma pandemia que assola o mundo todo? Como eu poderia responder a esta pergunta em frente à tela do meu computador, com uma internet contratada de alta velocidade, em um ambiente que possibilita o meu trabalho, se necessário, sem pensar nas mulheres e meninas tão diferentes de mim, com dores que nem passam pela minha cabeça...
Talvez com delícias de que eu também nunca desfrute...? Eu penso nessas mulheres, sim. Não posso falar por elas, posso pensar sobre nós, estudar e tentar contribuir. Quem sabe isso, de alguma forma, nos dê, a todas nós, alguma voz?
Individualmente, tenho minhas próprias dores, quem não as têm? Mas, vou aproveitar esse momento para destacar dores coletivas. De acordo com o estudo “Mulheres em Tempos de Pandemia”, do Laboratório Think Olga, 60% das mães brasileiras afirmam que sentem o impacto da quarentena em sua saúde emocional, assim como a população mais impactada pela Covid-19 é negra, feminina e periférica.
Apesar de serem, no mundo, mais de 70% dos profissionais de saúde, as mulheres ainda se encontram atrás nas posições de liderança, bem como, até janeiro de 2021, 46.754 casos de Covid-19 foram reportados entre os profissionais de saúde da enfermagem no Brasil, 85% dos contaminados são mulheres e 60% dos óbitos também são de mulheres. Essas dores são nossas (https://lab.thinkolga.com/saude-das-mulheres/).
Mas, preciso dizer qual seria a delícia de ser mulher e, interessante, ao pensar sobre isso, rapidamente, a primeira resposta que tenho é sobre um sentimento. E aqui vou me permitir compartilhar esse sentimento. A minha maior delícia é ver meus filhos dormindo à noite, em casa, em segurança, com saúde. Não sei se está relacionado a ser mulher, mas, no momento, é a minha maior delícia. Que sensação boa... Simples assim.
O que teria eu a dizer às jovens mulheres? Ainda há muito a ser feito. Muito mesmo. Não será fácil. Cada uma de nós tem seu próprio tempo para conscientização sobre essas questões. Mas vocês são corajosas. Nós somos corajosas. Mesmo quando pensarem em desistir, não desistam. Insistam, apesar dessa vontade que nos ronda, vez ou outra, de desistir. Fiquem atentas. O que isso significa? Observem, participem, indaguem. Perguntem e questionem o “óbvio”, se for preciso, porque o óbvio depende de quem o estabeleceu. Mantenham-se informadas e estudem com o desejo infinito de mudar o mundo. Esse desejo de mudar o mundo, de concretizar sonhos, é o que fornece energia vital. Precisamos dessa energia para viver.
*Doutoranda em Direito Constitucional na Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Juíza Titular da 11ª Vara do Trabalho de Natal/RN, Vice-Presidente da Associação dos Magistrados do Trabalho da 21ª Região (AMATRA 21) e Membra da Comissão ANAMATRA MULHERES. Email: danielalustoza@gmail.com