A presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Noemia Porto, reuniu-se, nesta quinta (13/5), com magistradas integrantes da Comissão Anamatra Mulheres. O encontro, último da gestão 2019/2021 sob a composição atual, marcou a celebração das realizações e do trabalho conjunto desenvolvido pela Comissão no biênio.
Ao se dirigir às magistradas, a presidente destacou a importância do grupo e o seu carinho pela temática feminista. "Acertamos na Comissão, homogênea em propósitos, mas heterogênea na visão e na vivência no mundo”, reconheceu a presidente. “Encerro aqui um ciclo e deixo especialmente nesta comissão o meu coração”, agradeceu emocionada.
As juízas Daniela Lustoza - vice presidente da Amatra21 -, Deizimar Oliveira, Patrícia Maeda e Laura Botelho também destacaram o trabalho realizado pelo grupo no período, unido em empatia e que deixou um legado importante para as próximas gestões, por exemplo, com o lançamento da página da Comissão no portal da Anamatra e do e-book, que consolida o trabalho da Comissão, além da realização de diversos eventos sobre temas ligados às mulheres.
A reunião marcou a leitura, pela juíza Deizimar Oliveira, da “Carta para Anamatra Mulheres”, documento que preparou para a ocasião. Entre outros pontos, o texto reconhece a importância do grupo e das suas integrantes que, com suas vidas concretas, buscam soluções de maneira honesta. "Pessoas comuns não necessitam de artificialidades para suscitar solidariedade. A interação se dá com naturalidade, pois suas experiências de vida são peculiares o bastante para que se interessem genuinamente pelos acontecimentos verdadeiros. Os laços florescem por convergência de sonhos, frustrações, expectativas, vontade de ação e disposição para a luta”, declara a magistrada.
Confira a íntegra da Carta:
Carta para a Anamatra Mulheres
Neste dia em que nos despedimos, sinto, nas pontas dos dedos das mãos e dos pés, romperem-se sentimentos de nostalgia e gratidão.
Certas emoções parecem tangíveis – como o afeto que se enraíza em nosso interior tal qual o ipê no seio da terra - e, entretanto, são impossíveis de exprimir.
Se o terreno é desconhecido por palavras, mesmo assim, move-me o desejo de buscar expressão.
Há momentos em que tudo parece muito difícil, as barreiras, instransponíveis, a solidão, impenetrável, os esforços, vãos.
Mas se o estranhamento, a tristeza, o medo nos paralisam, a comunhão nos pode mover!
É certo que uma comissão imaginada pode destoar, na realidade, daquilo que inicialmente se pretende; há o risco de resultar em mera formalidade ou constituir-se em amontoado de convenções que hipnotizam e aprisionam, mais fortes que a vontade.
Burocratas são vistos a todo momento, narizes empinados, negociando termos empolados para descrever seus assuntos da mais alta importância, disputando notoriedade como pombos bicando migalhas de pão. Nesses ajuntamentos, não há solidariedade, mas ciúmes, vaidade e charlatanismo.
Há entretanto, grupos que se ligam por identidade e cooperação, por pessoas que, acima de tudo, se reconhecem enquanto comuns.
Pessoas comuns não necessitam de artificialidades para suscitar solidariedade. A interação se dá com naturalidade, pois suas experiências de vida são peculiares o bastante para que se interessem genuinamente pelos acontecimentos verdadeiros. Os laços florescem por convergência de sonhos, frustrações, expectativas, vontade de ação e disposição para a luta.
Estas somos nós. Em relação com a vida concreta e seus problemas reais e à procura de soluções, de maneira honesta.
Nossa tarefa desafia uma tradição antiquíssima e em consequência da qual a dignidade é submetida ao espetáculo da configuração artificial, subordinada aos conceitos de mais, menos, maior, mais profunda, nenhuma. Nosso movimento é pela dignidade igual, circular, não piramidal.
Exige-se de nós apenas que tenhamos coragem. Em face do estranho, do inaceitável convencional. Não admitimos que a história da humanidade seja uma miscelânea de sentimentos hierarquizados ou indiferentes e que toda a atividade seja de preservação de uma realidade fixa e unívoca, de extravagante exclusão.
A natureza nos prova repetidamente que tudo está em movimento e transformação, nem mesmo o tempo é absoluto, mas relacional, não há tempo sem lugar.
E no campo da atividade humana, compartir experiências transforma, pois aproxima o porvir do imediato, o possível do provável e o implausível do viável e até do inevitável.
As coisas sucedem como fato corriqueiro, como que tecidas espontaneamente a muitas mãos e quando se vê, a novidade entra e se acomoda, chega a outros e acontece em nosso interior, familiar e próxima. Mudamos de posição, estamos em outro lugar: a transformação é externa (pelo tanto que se caminhou) e também interna porque o âmago do ser é tocado, expandido, retirado da clausura para o aprendizado.
Tudo já estava lá, mas se configurou para um sentido mais profundo, para a realização externa no mesmo tempo da realização interior.
Demos nossos passos juntas, e ainda os veremos nos pés de outras pessoas e, mesmo que em outro tempo e lugar, sentiremos a novidade como sendo nossa conhecida, até mesmo nossa amiga pessoal.